A festa mais popular
O Carnaval é a festa popular brasileira mais famosa em todo o mundo. A origem mais provável de seu aparecimento por aqui é o entrudo português, que aglutinava várias brincadeiras, muitas delas gerando violência. Porém, o mais comum eram as pessoas atirando água, farinha, ovos podres e fuligem umas nas outras.
É certo que o Carnaval é realizado na época anterior à Quaresma, período do calendário católico destinado à penitência, mas a sua simbologia é a da libertação. O entrudo, trazido para o Brasil ainda no século XVII, sofre influências dos carnavais europeus, especialmente da França e Itália, a partir do século XIX.
Ainda em meados do século XIX, grupos de foliões começaram a tocar bumbos e tambores, fazendo arruaças e muito barulho a partir das 22 horas do sábado. Essa iniciativa ficou conhecida como "Bloco do Zé Pereira". Um pouco mais adiante, incorporando tradições européias, máscaras, adereços e fantasias, como pierrô, colombina e Rei Momo, passaram a fazer parte da paisagem do Carnaval brasileiro.
Já no século XX surgiram os corsos, os cordões e, em 1928, a primeira escola de samba, a Deixa Falar, criada pelo famoso sambista Ismael Silva.
O Carnaval da cidade do Rio de Janeiro, com o tradicional desfile das escolas de samba, é o mais famoso mundialmente. Entretanto, o chamado Carnaval de Rua permanece seduzindo multidões, principalmente em Salvador, Recife e Olinda.
Origem do nome e da data do Carnaval
Hoje é quase consensual que a palavra Carnaval originou-se de carne + vale (do latim: caro, carnis = carne; vale = adeus), ou ainda da expressão carne levare ou carnilevamen. As duas expressões têm sentido quase idêntico: suspensão da carne, abstenção de carne.
Assim, o Carnaval anuncia a chegada da Quaresma, período no calendário da Igreja Católica consagrado à penitência e ao jejum. Antigamente, a Igreja recomendava aos católicos que ficassem toda a Quaresma sem comer carne. Hoje esta proibição restringe-se à Sexta-feira Santa.
Por isso, o Carnaval no Brasil acontece sempre em fevereiro ou março, nos dias que antecedem a Quaresma. É uma festa móvel, ou seja, não tem data fixa. O período carnavalesco, em sua amplitude máxima, estende-se do Natal até a Quaresma, mas a verdadeira festa consagrada a Momo se limita geralmente aos três últimos dias do período. Em outros países, a data varia de acordo com tradições locais e nacionais: por exemplo, na França a celebração se limita à terça-feira gorda e à mi-carême (quinta-feira da terceira semana da Quaresma). Na Alemanha, em Colônia, o Carnaval é iniciado às 11 horas e 11 minutos do dia 11 de novembro, enquanto que em Munique a festa é comemorada no dia 6 de janeiro, na festa da Epifania.
As origens mais remotas das comemorações de Carnaval são obscuras, assentando-se provavelmente em festividades primitivas de tipo religioso, em honra ao ressurgimento da natureza, com a volta da primavera. É possível associá-lo às festas de caráter orgíaco, como as bacanais, celebrações a Baco, deus do vinho, na Grécia antiga, ou as saturnais, festas em honra a Saturno, Deus da agricultura, na Roma antiga.
Na Idade Média, há referências a comemorações na França, com vinho e sexo; na Itália, como é o caso de Nápoles, os cortejos costumavam levar um enorme falo pelas ruas da cidade; e, em outros países da Europa, as festas eram embaladas por canções que ironizavam os costumes e os governantes. Batalhas de água, ovos e outras substâncias de odor forte também ajudavam a diversão. Pelas características pagãs do Carnaval, as relações entre as autoridades da Igreja e os carnavalescos nem sempre foram cordiais; o que prevaleceu, porém, foi uma relação de tolerância, por parte da Igreja, em relação à festa popular.
Os entrudos e os primeiros tempos de folia - Nos tempos da Colônia, nas cidades brasileiras, os entrudos eram batalhas em que os foliões atiravam água e farinha do reino nas pessoas que andavam pelas ruas. As cenas dessa festa popular foram documentadas por Debret em suas aquarelas: criados e escravos carregavam cântaros e latas de água para a folia dos patrões.
Depois, apareceram as laranjinhas-de-cheiro e borrachas com água perfumada. Já no século XVIII, os foliões atiravam de tudo: ovos podres, pós de todos os tipos, tomates estragados. A folia atingia igualmente a senzala e a casa-grande, contando com a participação dos governantes e de seus auxiliares. Câmara Cascudo refere-se, no Dicionário do Folclore Brasileiro, aos episódios em que o sisudo Imperador dom Pedro II acabou dentro de um tanque e o arquiteto Grandjean de Montigny morreu de pleurisia decorrente de um entrudo muito animado.
O carnaval de rua persistiu dessa forma, às vezes com folguedos mais violentos que provocavam proibições oficiais e ataques da imprensa. Atualmente, os ataques com confete, serpentina e bisnagas de água nos bailes de carnaval ou nas ruas das cidades fazem relembrar as antigas batalhas do entrudo.
Os primeiros bailes de Carnaval surgiram por volta de 1840 e eram animados por canções portuguesas, sobretudo as quadrilhas e as chamadas chanças lusitanas. Seguiram-se a polca e os ritmos do carnaval italiano. Em 1870, surgiu uma música tipicamente brasileira, o maxixe. Nesse ano, o povo cantou a primeira música carnavalesca do país: E Viva Zé Pereira. Muitos ritmos animaram os carnavais do passado, predominando o samba, as marchas carnavalescas e o frevo. Entre os grandes compositores de músicas carnavalescas do passado, podem ser citados Chiquinha Gonzaga, Noel Rosa, Ari Barroso, Lamartine Babo e Pixinguinha.
Todo ano, no sábado de carnaval, logo pela manhã, o Clube de Máscaras Galo da Madrugada, de Recife, abre oficialmente o Carnaval, a festa mais popular do Brasil. O famoso bloco, tido como a organização carnavalesca que mais mobiliza foliões no planeta, já reuniu mais de 1,5 milhão de pessoas em seu percurso de 3,5 quilômetros pela capital pernambucana. Neste ano, a folia reunirá com certeza um número ainda maior de pessoas.
Os festejos carnavalescos no Brasil acontecem em todo o território nacional, mas guardam diferenças regionais muito marcantes. Atualmente, em cidades como o Rio de Janeiro, Olinda e Recife, em Pernambuco, e Salvador, na Bahia, as festas atraem milhares de turistas de todo o país e do exterior. O prestígio dos carnavais dessas cidades está fundado na presença de manifestações locais de cunho folclórico e de certos fatores típicos que lhes conferem facetas inconfundíveis. Em Pernambuco, tem-se a presença do frevo e do maracatu; na Bahia, nota-se a presença das raízes africanas, com seus afoxés e trios elétricos; no Rio de Janeiro, destaca-se o brilho das escolas de samba, com seus desfiles milionários, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.
Entretanto, até meados do século XIX, o carnaval era semelhante de norte a sul do país. Foi o alegre e brutal entrudo, festa popular trazida pelos portugueses, a primeira manifestação carnavalesca no Brasil Colônia e também no Império. Em algumas localidades, ainda ocorrem manifestações remanescentes do entrudo, com corsos e carreatas pelas ruas, em que os foliões travam verdadeiras batalhas atirando ovos, água e farinha.
Rio de Janeiro - O Carnaval do Rio de Janeiro, talvez o mais conhecido e prestigiado como atração turística no país e no exterior, surgiu das espontâneas e antigas manifestações de alegria da população carioca, que durante séculos brincou o carnaval atirando ovos e água nos amigos ao som de qualquer ritmo, até de valsas. Mas foi a partir de um ritmo, o samba, que o carnaval carioca transformou-se lentamente até chegar ao que é hoje: um grande e suntuoso espetáculo para o público que pode pagar o ingresso na Marquês de Sapucaí.
Os desfiles cariocas eram realizados inicialmente pela população pobre dos morros, berços das primeiras escolas de samba, e só ganharam prestígio a partir de 1950, tornando-se logo produtos vendáveis. Atraíram a atenção de governantes e de homens de negócios, que viram o enorme potencial econômico da alegria popular.
Em 1954, a prefeitura do Rio de Janeiro convidou astros e estrelas de Hollywood para a festa e com isso atraiu para o desfile milhares de turistas. A partir de então, a TV, interessada na transmissão dos desfiles, teve um papel fundamental na modificação das relações entre a sociedade e o samba.
Atualmente, os desfiles pressupõem uma organização que extrapola os limites dos sambistas da escola: os espetáculos mobilizam milhões de dólares para sua realização. Surgiram os chamados carnavalescos, profissionais especializados, que criam e dirigem a montagem dos desfiles de cada escola. Ao mesmo tempo, os lugares de destaque na passarela do samba são ocupados por artistas da TV, pelas chamadas socialites, enfim por pessoas que são facilmente identificadas pelo público presente no Sambódromo ou pelos telespectadores das emissoras de TV.
O Samba - O samba teve origem nos antigos ritmos trazidos pelos escravos africanos que vieram para o Brasil. Afirma-se que a palavra vem de semba, que significa umbigada em dialeto africano.
No século XIX, esses ritmos sofreram influência da polca, da habanera, do maxixe e do choro. O samba chegou ao Rio de Janeiro com as baianas que foram viver na então capital da República, especialmente no bairro de Cidade Nova. Uma delas, tia Ciata (Hilária Almeida, 1854-1924), reunia músicos e boêmios que varavam a noite em sua casa cantando. Numa dessas reuniões apareceu a idéia da música que se tornaria o primeiro samba, gravado pela primeira vez por Donga (Ernesto dos Santos). A letra desse samba, intitulado Pelo Telefone, fala do jogo na cidade. Sua estrofe mais famosa diz:
O chefe da polícia
pelo telefone mandou me avisar que na Carioca tem uma roleta para se jogar |
Na década de 1930, o samba, que era tocado basicamente por violões e cavaquinhos, adotou a percussão dos surdos e cuícas, instrumentos comuns nas batucadas dos morros. Estava nascendo o samba moderno. Dele descendem outros gêneros musicais brasileiros como a bossa nova, imortalizada por Tom Jobim e João Gilberto, e o pagode, samba das rodas de amigos e das festas caseiras.
Pernambuco - Em Recife e Olinda, os festejos do Carnaval são dos mais animados e característicos do país, com a multidão pelas ruas exibindo seus passos ao som do frevo, ritmo que se tornou a marca do carnaval pernambucano.
A multidão de passistas fantasiados percorre as ruas de Recife durante dias e noites, em um espetáculo de cores e coreografias livres e improvisadas. Curiosamente, a dança é individual mas torna-se um show coletivo em sua cadência irresistível. Em Olinda, cidade da época colonial declarada patrimônio da humanidade, o carnaval de rua é animado por grupos mascarados tradicionais, como O Homem da Meia-Noite e A Mulher do Meio-Dia.
Frevo - Dança de rua e de salão, o frevo é a grande atração do carnaval pernambucano. Trata-se de uma marcha de ritmo sincopado, violento e frenético. Diz-se que, ao som do frevo, a multidão fica a "ferver". Segundo os estudiosos, foi dessa idéia de fervura (pois o povo pronuncia "frevura", "frever", etc.) que se criou o nome frevo.
O frevo teve sua origem no Recife, inspirado na polca-marcha. É uma marcha com divisão em binário e andamento semelhante ao da marchinha carioca, porém mais pesada e barulhenta, e com uma execução vigorosa e estridente de fanfarra. Nele o ritmo é tudo, e requer boa forma física para quem quer dançá-lo corretamente. O grande interesse da dança está em sua coreografia, que não é coletiva, de um grupo, de um bloco ou cordão, mas da multidão inteira, cujos passistas dançam individualmente, improvisando passos. O guarda-chuva colorido é o apetrecho típico que acompanha os dançarinos. Nos grupos de rua, os instrumentos são violões, cavaquinhos, flautas, clarinetes e contrabaixos, entre outros.
Bahia - Em Salvador, na Bahia, as comemorações do Carnaval se estendem desde o Ano Novo até a Quarta-feira de Cinzas, com características marcadamente populares, guardando na música, na dança e na indumentária raízes culturais afro-brasileiras.
Turistas de todo o país e do exterior participam das festas de rua, dos shows promovidos nas praias e praças da cidade, dançando em grupos organizados, os afoxés, com indumentárias características e ao som da chamada axé music. Estima-se que hoje há mais de 150 blocos organizados em Salvador. A participação dos foliões nos blocos mais tradicionais é permitida desde que o interessado compre um abadá (antes chamado mortalha), camiseta ou túnica colorida que o identifique como integrante do bloco. Com o abadá, que hoje pode custar até 350 dólares, o folião pode dançar e seguir o trio elétrico do bloco, protegido por cordões de isolamento e seguranças.
Salvador fica tomada pela música e pela alegria de grandes massas de foliões, durante o dia e a noite, com os blocos percorrendo toda a orla das praias e as avenidas principais da cidade. Artistas locais ou de renome nacional como Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Timbalada, Grupo Olodum, Gilberto Gil e Caetano Veloso animam a festa.
Afoxé - Os grupos de afoxé são manifestações artísticas de grande valor na cultura baiana, ligadas diretamente aos cultos afro-brasileiros, especialmente aos antigos atos de devoção às divindades do candomblé.
Apesar das mudanças socioculturais, os grupos de afoxé mantêm vários traços característicos da cultura africana: entoam cantos em dialetos africanos, usam instrumentos de percussão como atabaques e agogôs, além das cores e símbolos ligados às tradições dos cultos africanos. Um dos afoxés mais conhecidos, citado pelos compositores baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil em algumas de suas canções, é o Filhos de Gandhi.
Trio Elétrico - No Carnaval dos anos 1960, uma das mais conhecidas canções do compositor baiano Caetano Veloso, o frevinho Atrás do Trio Elétrico, divulgou para todo o país a existência dessa máquina de agitar multidões. O primeiro trio elétrico saiu às ruas em 1950. Era um calhambeque Ford T1929, equipado por dois alto-falantes. O dono do carro, Osmar Macedo, e seu amigo, Adolfo do Nascimento, ambos já falecidos, tocavam frevos de Pernambuco com guitarra, baixo e bateria.
Circulando pelas ruas, juntavam pessoas que seguiam o percurso cantando e dançando. No ano seguinte, o velho carro foi substituído por uma caminhonete e denominado Trio Elétrico Dodô e Osmar, que passou a ter como patrocinador a fábrica de refrigerantes Fratelli Vita. O patrocínio possibilitou-lhes a compra de um caminhão. O equipamento de som aumentou, assim como o número de músicos.
Nas décadas seguintes, vários trios elétricos foram montados na Bahia e o caminhão da folia tornou-se a marca registrada do carnaval da região. Hoje, espalhados por vários cantos do país, os trios elétricos dispõem de instrumentos modernos e tocam de tudo: de reggae à música clássica, conforme a ocasião. Além dos carnavais, animam bailes de formatura, comícios políticos, passeatas e até rodeios. Nos mais sofisticados, o som pode atingir cerca de 300 mil pessoas num raio de 5 quilômetros de distância. Carregam até 25 toneladas de equipamentos, com mais de 200 alto-falantes, 60 amplificadores, 20 canhões de luz com 900 lâmpadas coloridas e computadores que regulam a afinação dos instrumentos e o volume do som.
Carnaval no Brasil
Carnaval de Veneza
O Carnaval de Veneza, na Itália, é diferente em estilo, ritmo e espírito de qualquer outro carnaval. Já em suas raízes é uma celebração de elite, intelectualizada, embora hedonística. As fantasias e as famosas máscaras venezianas inspiram-se na elegância e bom gosto dos trajes dos séculos XVII e XVIII, ou nas personagens da Commedia Dell´Arte, em que figuram os nossos conhecidos pierrôs, colombinas e polichinelos.
No final do século XI, o Carnaval de Veneza aparecia nas crônicas como festejos que chegavam a durar até seis meses. Por essa época chegou-se até a regulamentar o uso das máscaras, que haviam invadido o cotidiano do povo veneziano. São comuns os relatos de abusos praticados atrás das máscaras durante e depois do carnaval de Veneza: desde a mais ingênua tentativa de sedução até o adultério; de pequenos furtos até homicídios. As autoridades proibiram o uso das máscaras no início do século XVII.
Após quase desaparecer no século XIX, o Carnaval de Veneza vem, desde 1980, sendo revivido e encorajado pelas autoridades. Atrai hoje mais de 100 mil pessoas que, apesar do frio e da ameaça das marés altas que freqüentemente inundam a praça de São Marcos, para ali convergem a fim de admirar o luxo das fantasias e das máscaras.
Em Veneza, nas belas mansões e palácios do Gran Canale, organizam-se também luxuosos bailes, regados a champanhe e animados por ruidosas orquestras. A alta sociedade internacional, afastada do burburinho das ruas, comparece aos salões dos hotéis de luxo, decorados a cada ano com temas retirados das óperas de Verdi. Neles dançam-se valsa, tarantela e até mesmo o samba, cada vez mais popular. O povo, por sua vez, concentrado na Praça São Marcos, se diverte de maneira bem mais desinibida.
Commedia dell'arte - Conhecida também como Comédia de Máscaras, a Commedia Dell´Arte era composta por espetáculos teatrais em prosa, muito populares na Itália e em toda a Europa na segunda metade do século XVI até meados do século XVIII. O espetáculo era baseado no improviso dos atores, que seguiam apenas um esquema elaborado pelo autor para cada cena cômica, trágica ou tragicômica. Grandes atores criavam as ações e os diálogos diante do público. Tornaram-se famosas as figuras de Arlequim, do doutor, do capitão Spaventa, de Pulcinella, Pantalone e Colombina, entre outros, com seus tipos físicos regionais, com seus dialetos e temperamentos especiais, vestimentas e máscaras características.
Carnaval em New Orleans
New Orleans é uma cidade ímpar no contexto norte-americano. Segundo porto dos EUA, situada na Louisiania, é famosa por ser o berço do jazz. Aí saboreiam-se também os pratos da apreciada cozinha creole, e seus habitantes orgulham-se de seu rico passado francês, vivo ainda no Vieux Carré, o antigo quarteirão tombado pelo patrimônio histórico e que serviu de locação para os filmes Coração Satânico e Down by Law (Daumbailó).
Abrigando um grande contingente de imigrantes de todas as partes do mundo, principalmente espanhóis e africanos, New Orleans exibe sempre um clima de música e alegria, que explode ainda mais no Carnaval, ou melhor, no Mardi Gras (Terça-Feira Gorda), o maior show ao ar livre do mundo, conforme anunciam as agências de turismo locais.
Teoricamente a festa começa 12 dias após o Natal e termina na Quarta-feira de Cinzas. A rigor, ela acontece duas semanas antes do Carnaval propriamente dito. Os nomes dos blocos e suas concepções artísticas, em sua maioria inspiradas nos deuses da mitologia grega (Hércules, Minerva, Hermes, Baco) atestam o quanto essas comemorações se prendem ainda às saturnais romanas que celebravam a entrada da primavera.
Os blocos, de grande impacto visual, não se cruzam e desfilam em datas e horários diferentes. Assim, não há característica de um concurso. Existe disputa apenas para as fantasias de luxo, em palanque ao ar livre, onde os participantes concorrem com o aplauso da multidão. Quanto à música, bandas de Dixieland Jazz misturam-se nas paradas carnavalescas, saindo dos clubes de Bourbon Street e do Preservation Hall para alegrar a folia nas ruas. O som do carnaval é feito também pelos estudantes dos colégios que, durante o ano todo, ensaiam para os eventos.
Carnaval na Alemanha
Na Alemanha, são conhecidos os carnavais de cidades grandes como Munique e Colônia, que já apresentam características das festas urbanas. Porém, no pleno inverno da Floresta Negra e dos Alpes é que estão as festas mais interessantes e tradicionais de todo o país. No estado de Baden-Wurttenberg, no extremo sul da Alemanha, há séculos os componentes dos chamados Grêmios da Loucura - corporações que se encarregam de legalizar o uso de máscaras durante o Carnaval - saem às ruas exibindo as mais exóticas máscaras que se possa imaginar. Elas são o resultado de um trabalho artesanal que exige muita minúcia e paciência dos rústicos camponeses da região, e relembram antigas personagens, fatos históricos ou lendas do folclore local.
Na cidadezinha de Stockach, de 13 mil habitantes, os mascarados homenageiam Hans Kuony, que foi o bobo da corte de Leopoldo da Áustria, no início do século XIV. Em outro vilarejo, Aach, predominam figuras com cabeças de repolho, por causa de uma lenda, segundo a qual um dos portões de um castelo do lugar devia ser disfarçado sob uma plantação de repolhos, o que nunca era conseguido por causa de um bode que todas as noites devorava a horta.