segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CAIXA DE SAUDADES

Caixa de Saudade

“Desde menina guardo, na minha sala da memória numa caixa de saudade, velhas cartas, fotografias e objetos coloridos de encantos e desencantos.
Lá estão o bigode áspero do meu pai,  o dedal paciente de minha mãe, a trança despenteada da minha irmã, duas bolas de gude quebradas que roubei dos meus irmãos; na fita da primeira comunhão, a medalhinha de Santo Antônio que a minha tia-madrinha e casamenteira me deu; o primeiro cartão-postal do vizinho João, com o cadeado do diários que perdi quando fiz quinze anos.
A carta, marcada com meu batom, amarrada numa outra, cuidadosamente desamassada, que ainda leio; o anel de rubi, que não serve mais no anular, na mesma correntinha, com os dentinhos do meu filho, sob a oração do seu sétimo dia, e o último poema que lhe escrevi.
Todos os meus coloridos encantos e desencantos estão protegidos do tempo. Num instante, num dia, muito tempo atrás, nesse relógio parado, sem corda, que junto deles deixei.”

(FALCONE, Sandra. Notícias de mim. São Paulo: Lemos Editorial, 2000)

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